Cultura Brasileira em essência: Cordel e Xilogravura.
- cultivandomundos

- 26 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2021
Eu vou mostrar pra toda gente
Que nosso povo tem valor
A nossa ginga é muito quente
E a cultura é de amor
Faça o que te digo
Ande um pouquinho por esse Brasil
Pois cá por essas bandas, meu amigo
O povo tem força que você nunca viu
Tem xilo, tem cordel
Tem macaxeira, pitanga
Capoeira, cachaça
Floresta e a danada da onça
Tem também feijoada, acarajé
Caruru e muita dança
E não podemos nos esquecer
Do Suassuna, grande artista
Entre muitos outros
À perder de vista
Tem pele linda e uma mistura danada
Onde esconde uma situação engraçada:
Ora só não percebe o nosso tesouro
Aquele que parece que nem tem olho.
CultivandoMundos
Nossa nova linha de pesquisa sobre o nosso Brasil brasileiro com a #cultivandomeubrasil irá explorar a essência dos nossos valores genuínos. Buscamos assim, divulgar todo o nosso potencial como sociedade e nação tendo o princípio que amamos o que conhecemos, valorizamos o que nos traz orgulho, protegemos o que nos pertence e respeitamos aquilo que é do próximo. Temos a alegria de começar com a cultura nordestina, a poesia vinda do povo, a arte do Cordel.

Literatura de Cordel é um gênero literário popular formado em rimas. São recitados pelos cordelistas de maneira melodiosa e cadenciada, floreando suas apresentações com violas para conquistar os compradores de sua arte. Originalmente de Portugal e trazida para o Brasil desde o início da colonização, a palavra cordel indicava a maneira em que esta arte era exposta para a venda: penduradas por meio de cordas, cordéis ou barbantes. Popularizada no Nordeste na segunda metade do século XIX, este tipo de publicação, criou uma identidade regional forte juntamente com a técnica de ilustração chamada xilogravura. A xilo, proveniente provavelmente da China do século VI, é uma técnica de gravação, uma espécie de carimbo, onde com objetos cortantes, o artesão esculpe em uma placa de madeira, o desenho que quer imprimir.
A importância do cordel para o nosso povo perpassa pelos caminhos do incentivo à leitura, sendo esta uma publicação de custos baixos tornando assim o consumo acessível. Vemos aí um aliado na luta contra o analfabetismo e na manutenção do prazer no hábito de ler. Por outro lado, podemos citar a profunda relevância na questão da perpetuação e divulgação da cultura popular brasileira, visto que ela retrata a realidade de um povo que sofre, que ama e que luta. Enredando assim, versos que gritam problemas sociais e opiniões de um cidadão que vê na arte uma maneira de pelejar. Logo, os educadores têm uma ferramenta inestimável de trabalho para explorar.
No dia 7 de setembro de 1988, foi fundada a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com o intuito de reunir os grandes expoentes da cultura do Nordeste. Tem a sua sede no Rio de Janeiro, sendo idealizada por Gonçalo Ferreira da Silva, um estudioso da técnica que montou uma barraca na famosa Feira de São Cristóvão para vender e divulgar a arte no final da década de 1980. Atraindo muitos curiosos e pesquisadores aquela pequena banca acabou por se tornar o projeto incentivador da criação da Academia.

Muitos artistas se destacaram neste gênero entre eles, Ariano Suassuna (Paraíba do Norte, 16 de junho de 1927 — Recife, 23 de julho de 2014) que transborda brasilidade em todo o conjunto de sua obra. Sua mais conhecida peça é o Auto da Compadecida que tece diretamente da fonte dos cordéis sua métrica e estética regionalizadas. Além dessas fontes, esta literatura em geral, se apropria de histórias populares contadas oralmente e de histórias de outros cordelistas assim como no Auto de Suassuna, encontramos casos contados por Leandro Gomes de Barros (Pombal, 19 de novembro de 1865 — Recife, 4 de março de 1918), considerado o primeiro e maior cordelista do Brasil. Em sua data de nascimento, comemora-se o dia do cordelista como bela homenagem.

No mérito da Xilogravura, temos o contemporâneo José Francisco Borges. Nascido em 1935 no interior de Pernambuco, aos 21 anos ele decidiu escrever cordel e não tendo dinheiro para bancar um ilustrador, ele mesmo começou a desempenhar este papel. O próprio Ariano Suassuna, rendeu-lhe muitos elogios, desencadeando assim uma visibilidade muito grande. Em 2002, ilustrou o Calendário Anual da Nações Unidas, em 2006, foi tema de reportagem no The New York Times. Condecorado com a comenda da Ordem do Mérito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural.
J. Borges é patrimônio vivo de Pernambuco.
A Literatura de Cordel é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
"A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade."
Nos vemos por aí neste Brasil lindo de se ver!
Para saber mais:
Sites da Academia Brasileira de Literatura de Cordel:
https://www.facebook.com/Academia-Brasileira-de-Literatura-de-Cordel-243195152394454/
https://www.youtube.com/channel/UCRLjp7TlVpMD29zOIZUXLLg
Entrevista com J. Borges:
Entrevista com Suassuna:
Sobre Leandro Gomes de Barros:
https://www.itaucultural.org.br/secoes/entrevista/cordelista-leandro-gomes-barros
Créditos da Fotos em Ordem de Postagem:
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FAuto-compadecida-Ariano-Suassuna%2Fdp%2F8520938396&psig=AOvVaw1uYL36vIP8rJDc924kWiFs&ust=1614436291470000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCPD3_4Pih-8CFQAAAAAdAAAAABAX
http://artepopularbrasil.blogspot.com/2011/01/j-borges.html





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