Literatura indígena na escola: Repensando seu lugar em planejamentos pedagógicos
- cultivandomundos
- 18 de mai. de 2021
- 2 min de leitura

De que forma a literatura indígena na escola pode contribuir para formação cidadã e para diminuição das violências (direta ou indiretamente) sofridas pelos povos indígenas? De que forma a literatura dos povos originários pode ser inserida no planejamento escolar, sem que seja somente trazida no dia que se “celebra o dia do índio” - entre muitas aspas -?
Como disse Julie Dorrico, descendente do povo Macuxi, “ O que é a literatura em si, se não contar histórias?” (TEDx Unisinos, 2019).
Se pararmos para pensar, os povos originários sempre tiveram em sua cultura o hábito de contar histórias para suas comunidades, suas famílias e seus filhos e para todos aqueles que os cercavam.
De geração em geração, a tradição oral foi sendo um ponto fundamental nas culturas desses povos. A partir dessas narrativas apresentadas ao longo dos anos foi possível levar às gerações a conhecerem suas histórias, suas compreensões de mundo, seus conhecimentos e suas raízes.
Além das histórias, as cantigas, as músicas de “ninar”, as histórias que ouvimos de nossos avós, pais e familiares também fazem parte de quem somos, construindo assim nossa identidade. Identidade essa que se constrói no passado, presente e no futuro, e que se apresenta por meio dos nossos discursos, dos gestos, condutas, forma de pensar, no ser e no agir no mundo.
Compreendendo que nossa identidade é algo que está em constante (re)formulação, é possível olhar para questões que fazem parte de quem somos. Dessa forma, conhecer histórias indígenas principalmente em espaços escolares é possibilitar um reconhecimento de nossas origens ou não, é olhar para o diferente indo além do respeito e da tolerância e compreendendo o multiculturalismo presente entre nós.
A escola que conhecemos hoje, surgiu na época da Revolução Industrial e à priori tinha como objetivo reproduzir um modelo social e repassar conhecimentos prontos. Em 2021, se a escola deseja promover transformações sociais, precisa estar atenta aos conhecimentos que vão para além dos livros didáticos. Essa instituição, com seu papel de formar cidadãos também contribui na construção de identidades.
Um povo que reflete sobre sua existência, que compreende suas raízes, que ressignifica saberes e que está atento a (re) conhecer às culturas que estão ao seu redor: é um povo que pode refletir criticamente sobre o mundo e assumir novos olhares para a realidade, rompendo também com ideias engessadas ao longo do tempo.
A partir dessa nova perspectiva, a construção da identidade dos sujeitos se estabelece de forma mais autônoma, reflexiva e assertiva. As escolas precisam levar em conta que seu papel também é ampliar os horizontes de saberes resgatando culturas tantas vezes marginalizadas socialmente. Nosso desejo é que a literatura indígena esteja presente nos espaços escolares não como pretexto para um dia de celebração ou um dia festivo, mas sim de maneira que a literatura indígena possa encontrar dentro da sala de aula também um espaço de resistência, luta e reflexão social.
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