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O Teatro Experimental do Negro







Dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que 54% da população brasileira é negra.


Há de ser natural a seguinte análise: sendo a população brasileira de maioria negra, deveríamos encontrar um número considerável de pessoas de pele negra em todos os lugares se pensarmos em uma lógica quase matemática.

No entanto, pense em um condomínio de luxo, quantas pessoas de pele preta você consegue visualizar ali?

Elas são moradoras deste local?


Agora vejamos as favelas ou periferias.


Qual o percentual de habitantes afrodescendentes?

Em um país de maioria negra, não deveríamos ter uma aleatoriedade nestas proporções? Ou ao menos uma mescla maior?


“Na sociedade brasileira do século XIX, havia um ambiente favorável ao preconceito racial, dificultando enormemente a integração do negro. De fato, no Brasil republicano, predominava o ideal de uma sociedade civilizada, que tinha como modelo a cultura europeia, onde não havia a participação senão da raça branca. Esse ideal, portanto, contribuía para a existência de um sentimento contrário aos negros, pardos, mestiços ou crioulos, sentimento este que se manifestava de várias formas: pela repressão às suas atividades culturais, pela restrição de acesso a certas profissões, as "profissões de branco" (profissionais liberais, por exemplo), também pela restrição de acesso a logradouros públicos, à moradia em áreas de brancos, à participação política, e muitas outras formas de rejeição ao negro.

Contra o preconceito e em defesa dos direitos civis e políticos da população afro-brasileira, surgiram jornais, como A Voz da Raça, O Clarim da Alvorada; clubes sociais negros e, em especial, a Frente Negra Brasileira, que tendo sido criada em 1931, foi fechada em 1937 pelo Estado Novo.”


https://brasil500anos.ibge.gov.br/en/territorio-brasileiro-e-povoamento/negros/a-heranca-cultural-negra-e-racismo.html


Neste contexto social, é criado também, o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944.




Antes deste projeto, existia o movimento Black Face, onde brancos pintavam a cara na cor preta para representar esses personagens que configuram esta parcela da população excluída do movimento sociocultural.


Uma pessoa importante à frente deste movimento é Abdias do Nascimento.



Abdias nasceu em Franca, SP, em 1914 ,com 15 anos, alista-se no exército e vai morar na capital São Paulo. Na década dos 1930, engaja-se na Frente Negra Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938. Funda em 1944 o Teatro Experimental do Negro, entidade que patrocinou a Convenção Nacional do Negro em 1945-46.


Como um ato de resistência, o TEN foi criado e despertou as lutas políticas pelos direitos civis que eram usurpados deles. Merecem destaque também a realização, em 1950, do 1º Congresso do Negro Brasileiro, iniciativas de educação para jovens e adultos e a edição entre os anos de 1948 e 1951 do jornal Quilombo.


Então, este movimento conjunto tinha como objetivo “priorizar a valorização da personalidade e cultura específicas ao negro como caminho de combate ao racismo”. (Nascimento, 2004, p. 218)




A Convenção propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria culminando na Lei Alfonso Arinos que podemos encontrar no endereço eletrônico:



À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950.



Peças apresentadas pelo TEN


1945 - O Imperador Jones

Esta peça em especial tem uma história bem interessante por envolver o próprio autor Eugene O’Neill, que cedeu os direitos autorais ao TEN, por simpatizar com a iniciativa e reconhecer a similitude de condições entre o teatro brasileiro da década de 1940 e o teatro estadunidense de duas décadas antes.

1946 - O Moleque Sonhador

1946 - Festival do 2º Aniversário do Teatro Experimental do Negro

1946 - Othello

1946 - Todos os Filhos de Deus Tem Asas

1947 - Terras do Sem Fim

1947 - O Filho Pródigo

1947 - Recital Castro Alves

1948 - A Família e a Festa na Roça

1948 - Aruanda

1949 - Filhos de Santo

1949 - Calígula

1952 - Rapsódia Negra

1953 - O Imperador Jones

1953 - O Filho Pródigo

1954 - Festival O'Neill

1954 - Onde Está Marcada a Cruz

1956 - João Sem-Terra (Teatro Novos Comediantes de S.Paulo)

1956 - Orfeu da Conceição

1957 - Perdoa-me por Me Traíres

1957 - Sortilégio - Mistério Negro

1958 - O Colar de Coral

Protestando sobre a maioria branca no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, realizaram a apresentação de algumas de suas obras no local.


Mas as dificuldades continuaram “O TEN foi impedido pelo governo brasileiro de participar do primeiro Festival Mundial de Artes Negras, realizado no Senegal em 1966, ocasião em que Abdias Nascimento publicou sua "Carta Aberta a Dacar" denunciando o critério discriminatório aplicado pelo Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores). O artigo foi publicado pela revista Présence Africaine, editado pelo renomado intelectual senegalês Alioune Diop.

Em 1968, o TEN realizou um ciclo de debates e a primeira exposição do projeto Museu de Arte Negra, no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Logo em seguida, Abdias Nascimento viajou para o exterior, onde foi obrigado a ficar durante 13 anos de exílio. No exterior, ele continuou o trabalho do TEN ao desenvolver atividades culturais e artísticas, bem como continuar o combate ao racismo.”

Trecho encontrado no site:



Para Abdias do Nascimento: “O Teatro Experimental do Negro é um processo. A negritude é um processo. Projetou-se a aventura teatral afro-brasileira na forma de uma antecipação, uma queima de etapas na marcha da história. Enquanto o negro não desperta completamente do torpor em que o envolveram. Na aurora do seu destino, o Teatro Negro do Brasil ainda não disse tudo ao que veio”.


Sigamos atentos ao racismo intrínseco erroneamente ao nosso cotidiano fazendo dele invisível aos olhos de muitos.

Se você não sofre o preconceito, não significa que ele não existe.


Para saber mais:




 
 
 

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