Sororidade - Nise da Silveira
- cultivandomundos
- 18 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
"O que eu procurei fazer no Museu Imagens do Inconsciente foi naturalmente o estudo sobre vários aspectos do chamado "louco" mas o que caracteriza principalmente o nosso trabalho é a tentativa de penetração no mundo interno. Este mundo que é "contíguo" com a realidade. É como se as condições adversas, externas, empurrassem o indivíduo e ele não tivesse outra porta de escape, senão a loucura. Nós, então, tentamos acompanhá-lo um pouco neste mundo interno para o qual ele foi atirado. Claro que o objetivo será trazê-lo de volta a nossa realidade, o que não é fácil porque a nossa realidade é muito dura para eles."
Nise da Silveira

Sororidade é reconhecer que a mulher tem a capacidade de ser pioneira em questões fundamentais à humanidade.
No tema arte e educação, prestaremos homenagem a mais uma mulher notável: Nise da Silveira. Nascida em Alagoas no ano de 1905, ingressa na Faculdade de Medicina na Bahia aos 16 anos sendo ela a única mulher no curso. Com o estudo “Ensaio Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil”, ela concluiu a graduação.
Em 1933, cursando os anos finais da especialização em psiquiatria, estagiou na clínica neurológica de Antônio Austregésilo. Logo após terminar sua especialização, foi aprovada no mesmo ano em um concurso de psiquiatria, e começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
Acusada de manter hábitos como leitora subversiva, ela foi presa no Complexo Presidiário Frei Caneca, em meados da década de 30, pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, onde conheceu Olga Benário e o autor também alagoano Graciliano Ramos. E para o conterrâneo, o encontro clandestino devido a celas separadas através de um buraco, rendeu uma passagem em sua obra “Memórias do Cárcere”. Permaneceu afastada na semiclandestinidade por motivos políticos.
Foi reintegrada ao serviço público no ano de 1944 no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Ao se deparar com os métodos ditos modernos de cura à loucura, se recusa a proceder com tais procedimentos desumanos. Em sua voz, pacientes passaram a se chamar clientes através do simples fato que paciência deveria ser característica do profissional de saúde envolvido. De uma forma observadora reconheceu a sutileza do poder de cura da arte sobre o intelecto humano.
Remando contra forte tendência em reduzir a números ou objetos os corpos que persistiam fortes em uma sociedade que os desprezava (não sabemos até onde foi o sucesso da humanidade neste quesito hoje), Nise lutou por um tratamento humanado naqueles que o destino rumava para eletrochoque ou lobotomia. Começou a experimentar no hospital que trabalhava as artes plásticas como terapia ocupacional e percebeu que ali poderiam ser transmitidas e aliviadas as mazelas da mente.

Fundou em 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, que guarda e divulga o acervo artístico das pessoas que participaram deste projeto inovador. A importância desta proposta perpassa a questão apenas estética e entrega um valioso montante de documentos que enriquecem a pesquisa científica acerca da mente humana.

Assustada com a porcentagem alta de retorno ao Centro Psiquiátrico, após os mesmos serem considerados aptos à reintegração social, fundou em 1956 a Casa da Palmeiras, uma clínica de reabilitação.
Neste local, ela pôde colocar em prática os seu estudos e propor uma pacífica e humanizada reintrodução à sociedade.

Colocou em prática o trabalho dos "coterapeutas", assim como ela chamava os animais que participavam do processo. Trazia com esta ideia, o senso de responsabilidade sobre a vida de um outro ser.
Nos deixou aos 94 anos, mas eterniza o seu legado de amor ao próximo. Possibilita entre muito ensinamentos, a lição que é necessário olhar nos olhos, enxergar o outro e trazer a nossa dedicação por tornar a nossa realidade mais leve.
Para saber mais:
Divulgação do Filme : https://www.youtube.com/watch?v=UeAUNvcM_xk
Entrevista com a Nise: https://www.youtube.com/watch?v=EDg0zjMe4nA
Documentário: https://g.co/kgs/9uEQXs
コメント